quinta-feira, agosto 15

Andar de trem é...










Se você, como eu, mora longe do trabalho/escola/faculdade/resto do mundo, e depende do transporte público “de qualidade” desse país, vai entender cada linha desse texto.
Andar de trem é algo surpreendente. O trem sai da estação de origem cheio, chega nas próximas estações e enche um pouco mais, você entra e percebe que ele está abarrotado, duas estações depois da sua e pronto, ele está lotado, ninguém mais entra só sai... hahaha, pegadinha do malandro. Quem está em pé na estação aguardando o trem tem uma perspectiva muito diferente da sua, há espaço sim para mais gente entrar, é só empurrar e comprimir. E nem pense em reclamar, está todo mundo no mesmo barco, ou melhor, no mesmo trem que você. Todos necessitam chegar a algum lugar.
Se você nunca andou de trem, ou nunca andou num horário crítico, ai via alguns bons (só que não) motivos pelos quais você deveria andar.
Andar de trem é...
1. Desafiar a lei de Newton.
Newton nunca andou de trem no horário do rush, logo ele não tinha noção de que dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço SIM SENHOR! Eu disse dois? Doce ilusão, uns quatro ocupam o mesmo lugar. Como? Ah, apertando aqui, comprimindo ali, se tornando um com o outro... essas coisas. Vai, tenta, você consegue desmentir o melhor físico de todos os tempos.

2.  Ser molestado e não poder reclamar
Os tarados devem adorar andar de trem. Imagina você poder sarrar, encoxar, passar a mão no peitinho e não receber um tapão no meio das fuças. Eu gostaria de bater, mas no trem lotadão todos te molestam, até as bolsas. Conclusão, faça cara feia e um escândalo se o cara só sarra você, se recusando a ser levado pela multidão, esse ai esta de maldade. Os outros, que só passam são produtos do meio, se forem espertos te molestam e você nem vai saber, afinal há bolsas, celulares, guarda-chuvas te assustando ao mesmo tempo.

3.Colocar seu relacionamento a prova
Seu namorado (a), noivo(a), marido/mulher sabe que você anda de trem? Pois é, mas ele(a) não sabe o quão grudado estava o seu corpo (quase se fundindo) no corpo daquele gato(a). Eu sei, eu sei, o trem estava lotadão, mas convenhamos seu companheiro poderia ter um ataque de ciúme se soubesse... eu teria.

4. Paquerar
Você está solteiro(a)? Ande de trem! Parece self-service, tem gente pra todos os gostos. A troca de olhares entre os passageiros é inevitável, então sonde o ambiente, alguém pode capturar o seu olhar e você pode até gostar. ;)

5. Ser solidário com a dificuldade do outro
Andar de trem é difícil, todos pisam no seu pé, e você pisa no pé de todos. Todos te apertam, e você aperta a todos. Algumas pessoas são super cheirosas, outras fedem tanto, que parece que o sabonete era feito de essência de gambá. Você e o passageiro ao lado estão no mesmo perrengue, então se ele bater em você com a mão, o cotovelo, a bolsa não faça escândalo, provavelmente você fez a mesma coisa com o passageiro do outro lado.

6. Um teste de paciência e bom humor
Não adianta reclamar, não adianta repetir que está atrasado, não adianta pedir ao outro passageiro para ele não te apertar. Está todo mundo no mesmo trem lotado e atrasado. Então, só te resta tirar o bom humor do bolso e fazer piada. Não achou graça? Pegue um taxi.

7. Fazer drenagem linfática em grupo e 0800
Está gordinho(a), com peles sobrando? Eu tenho a solução! Ou melhor, os passageiros do trem têm a solução para o seu problema. Todos serão solidários, e por apenas R$ 2,90 (trem do Rio) você chega ao seu destino e ganha no trajeto uma drenagem linfática! Fique lindo(a) e fino(a) em apenas uma viagem de quase uma hora!

8. Colocar o sono em dia
Seu sono está atrasado? No trem você o coloca em dia. E não se preocupe se não conseguir segurar no ferro para encostar a cabeça no braço, você pode se escorar nos passageiros-amigos. Todos tão pertinhos que nem precisa se preocupar em perder o equilíbrio.

E de agora em diante, ande mais de trem, faz bem a saúde!


N. Reis



segunda-feira, março 11

No limite do Verso

"Afina, qual é o limite do verso?
Quando chegamos ao horizonte?"
"Plenamente" - No limite do verso



No limite do verso é o primeiro livro de Carmem Maria Bastos, uma escritora que veio para abalar as estruturas da poesia brasileira moderna. 
Já no seu primeiro livro sentimos o impacto das palavras e da forma, somos lançados a todo momento no vazio e puxados à tona sem aviso. Seu primeiro impulso é lê-lo num estirão, para depois ser arrastado a uma nova e profunda leitura de cada poema minuciosamente.

A autora me presenteou com uma entrevista sobre seu livro, suas influência e os planos para o futuro. Confira abaixo.

Eu: Você sempre quis ser escritora? Ou poeta? 
Carmem: Bem isso exige muita reflexão de minha parte. Sempre escrevi contos, crônicas e poemas, no entanto eu achava que os poemas eram isolados e para meu espanto com o tempo comecei a ver que eles eram mais presentes do que eu imaginava. Digo, sempre acabo escrevendo de algum modo, poeticamente do contrário tenho que parar e me concentrar muito. qdo escrevo poemas estou de certa forma a serviço da poesia tenho a inspiração e depois trabalho muito em cima dela, não posso escrever um poema mecanicamente, pq ele não é dado de pronto, uso técnica sim mas isso é bem depois, qdo já há o ‘esqueleto’ já com os contos acho que o processo é mais mecânico desde o início porque sabemos qtos personagens queremos, como eles são, qual o enredo, etc, na poesia não dá para saber onde vai o poema.
Meus pensamentos: (e eu que pensei que era só sair escrevendo)


Eu: Como surgiu a ideia de publicar um livro?
Carmem: Como falei sempre escrevi ,mas publicar não passava em minha mente, por motivos óbvios como mercado e até timidez mesmo. Comecei a pensar na publicação por conta dos amigos. Eles gostavam dos textos, pediam e sempre me convocavam para escrever e também houve incentivo de muitos de meus professores então comecei este caminho.

Eu: Quando começou a ser gerado o No limite do verso?
Carmem: Há mais ou menos 2 anos, quando eu só sabia o título.

Eu: Qual o seu poema preferido no seu livro?
Carmem: Meu preferido é o ‘Final’ fiquei muito contente em ter conseguido termina-lo, levei 3 meses.

Eu: Quais foram suas maiores influências, inspirações?
Carmem: É difícil dizer, posso ser injusta esquecendo algum nome,  gosto muito de ler então algumas influências: Fernando Pessoa, Drummond, João Cabral de Melo Neto, Rimbaud, Baudelaire, Antonio Cicero, Rilke, Alberto Pucheu, Edigard allan Poe, etc , etc e quanto  a inspiração acontece quando menos espero.
Meus pensamentos: (sei que seus olhos brilharam quando voce escreveu Antonio Cicero e Pucheu... um lindo poeta e um professor espetacular)

Eu: Você lembra qual foi o primeiro livro que você leu?
Carmem: Que difícil, me apaixonei pela literatura ainda em criança, vou chutar: ‘O morro dos ventos uivantes’ li 3 vezes e o conto ‘William wilson’ de Allan Poe.

Eu: Quais os seus projetos para o futuro? Teremos mais Carmem Maria Bastos?
Carmem: Futuro...isso me assusta, acho que nós o construímos a cada dia, conforme nossas ações. Pretendo continuar fazendo o que gosto: estudar, escrever e aprimorar meu trabalho.
Meus pensamentos: (humm espero que o boato sobre o livro de contos seja verdade...)

Se você desejar adquirir o livro da Carmem Maria Bastos, está disponível para compra no site da Editora Multifoco
http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=971&idProduto=1000

Espero que vocês tenham gostado da entrevista, segue o meu poema favorito:

Racional

Mas quando é que foi que a racionalidade fez sentido?
Ou será que estamos em nossa casa acorrentados?
Pensar é transtornar. Extrapolar.
Pense e o mundo te olhará enviesado,
porque já se acostumou com a inércia habitual, com o não-combate.
O pensamento castiga, isola.
Será que a maioria das pessoas quer este preço tão alto?
O preço da expulsão do paraíso, da dor certa, da inquietude...
Há somente dois séculos realmente olhamos para nós
Veja a borboleta.
Suas cores estão mortas e não há beija-flores aqui!
Tudo é cinza
Coração enegrecido.
Saiu-se da caverna
Do esconderijo, o sol é um só.

Carmem Maria Bastos - No limite do Verso


N. Reis
 

domingo, janeiro 20

Impossível



Ela entrou na sala exalando o perfume que fora presente de aniversário. Eu a queria, queria sentir aquele perfume diretamente do seu corpo, e não solto no ar; queria cuidar dela, leva-lá para todos os lugares, tê-la ao meu lado. Mas se existia algo impossível no mundo era ter aquela mulher para mim. "Por quê?" talvez você me pergunte; "nada é impossível" talvez você me aconselhe. É impossível, eu afirmo.
Se eu fora atingido pelas flechas do cupido e terminei por amar aquela mulher, eu que a amasse em silêncio, sofresse em silêncio.
Tinha um sorriso divino, e o dirigia a mim seguido de um cordial "oi, você está bem?". Minha resposta se repetia sempre que ela estava por perto: "Indo... um dia melhora.". Ela gargalhava e dizia que um dia eu lhe daria uma resposta diferente. Eu duvidava, só melhoria no dia que ela fosse minha, isto é, nunca.
E então ele entra: forte, bonito, seguro de si, a toma em seus braços e beija seus lábios. Morro de inveja e ciúme. Os sentimentos dentro de mim entram em confusão (é sempre assim): ódio, amor, arrependimento, tristeza, desespero...
Eu queria aquela mulher, mas era ele quem a tinha..
-- Irmãozinho, eu e Gisele vamos ver um filme. Quer ir com a gente?
-- Hum, não, não. Tô tranquilo, vou jogar um videogame e dar um volta na rua... Bom filme pra vocês.

Ir ao cinema com a mulher que eu amo enquanto outro a beija... acho melhor não.

N. Reis