quinta-feira, julho 29

Belas Mãos







Não era ronco, ele apenas ressonava. Há um mês atraz seria cansaço do trabalho, mas não hoje, não nesse último mês turbulento, era cansaço da quimio, dificuldade de respirar. Um mês de tortura para o seu próprio organismo, sua autoestima e nossa relação.
Sua primeira reação foi me mandar embora, não queria que eu passasse por nenhum daqueles momentos. Mas eu não poderia ir, não porque ele estava doente, mas porque eu o amava, mais do que minha própria vida. E vê-lo sofrer daquele jeito me dava forças para lutar mais e mais por ele; pois eu não saberia viver sem ele, eu era egoísta demais para perdê-lo.
Fiquei o observando dormi, todo o seu rosto estava mudado, mais magro, com rugas de expressão que não deveriam estar ali, afinal ele tinha apenas 30 anos. A unica coisa que não havia mudado eram as mãos, ele sempre teve mãos belíssimas; o que ao meu ver era incoerente, pois uma das primeiras coisas que envelheciam eram as mãos, mas as dele estavam tão belas quanto antes.
Beijei lentamente sua testa e ele abriu os olhos.
- Não quis te acordar meu amor.
- Não tem problema... Que horas são?
- Ainda são 7 horas, volte a dormi. - Beijei sua testa e levantei, iria prepara o café, ele tinha horarios corretos para se alimentar e tomar os remédios.
- Aonde você vai? Fique do meu lado um pouco mais...
- Tenho que preparar seu café, não podemos atrasar.
- Não vai atrasar, só venha até aqui, só um pouquinho.
Me deitei ao lado dele, como eu o amava. Ele desenhou meu rosto com as mãos, demorou nos lábios, aproximou o rosto do meu e me beijou com delicadeza.
- Eu amo você, obrigado por não me deixar sozinho.
- Eu jamais te deixaria sozinho, já que te amo tanto.
Nos olhamos por um longo momento. Me levantei e fui preparar o café. Ele voltou a dormi.

Voltei para o quarto, sua mão direita estava sobre o meu travesseiro, seus olhos estavam fechados, sua aparencia era serena, em paz.
Beijei sua mão, antes quente, notei que estava gelada. Ele estava em paz, sem sofrimento.

N. Reis

sexta-feira, julho 23

A vingança




Visualisei meus lindos 10 dedos em volta do gordo pescoço dela. Tive tempo de decidi se apertaria com muita força ou se depositaria a força paulatinamente.


Toda a raiva acumulada durante meses estava entrando em colapso, como um verdadeiro vulcão em erupção; afinal se ela sofresse só um pouquinho, 10% daquilo que ela me fez sofrer, minha alma estaria lavada, eu estaria vingada.


Meses de tortura, risinhos ironicos, comentarios desnecessários e sarcasticos, sadismo mórbido, como se ela se alimentasse da desgraça alheia, da infelicidade dos outros. Ela tinha prazer em dar desprazer ao próximo.


Essa era a minha hora, minha vingança, ela sofreria, sufocaria como eu me sufoquei, provaria do proprio veneno, pois ela engasgaria na propria saliva; literalmente engoliria sua ironia e sarcasmo.


Levantei do meu lugar, esfreguei minhas mãos e dei um sorrisinho amarelo, ela retribuiu o sorriso, mal sabia ela o quanto, em minhas mente ela estava sofrendo. É uma pena eu ser tão covarte.. um dia quem sabe eu me vinge de verdade.


N. Reis

quarta-feira, julho 14

Justificando


A alma do ser humano é um aglomerado de incertezas e necessidades.
Incertezas do amanhã, necessidades de entender o ontem e fazer do hoje um momento digno de se estar.
E as palavras nada mais são do que válvulas de escape para a alma.
Mas palavras o vento leva...
Palavras a alma esquece...
Contudo nenhuma alma descansa enquanto todo o seu ser não se dissipa, não se derrete, não se entrega...
Lançando-se nas palavras...
e posteriormente...
Lançando-se no Vento...



N. Reis