Não era ronco, ele apenas ressonava. Há um mês atraz seria cansaço do trabalho, mas não hoje, não nesse último mês turbulento, era cansaço da quimio, dificuldade de respirar. Um mês de tortura para o seu próprio organismo, sua autoestima e nossa relação.
Sua primeira reação foi me mandar embora, não queria que eu passasse por nenhum daqueles momentos. Mas eu não poderia ir, não porque ele estava doente, mas porque eu o amava, mais do que minha própria vida. E vê-lo sofrer daquele jeito me dava forças para lutar mais e mais por ele; pois eu não saberia viver sem ele, eu era egoísta demais para perdê-lo.
Fiquei o observando dormi, todo o seu rosto estava mudado, mais magro, com rugas de expressão que não deveriam estar ali, afinal ele tinha apenas 30 anos. A unica coisa que não havia mudado eram as mãos, ele sempre teve mãos belíssimas; o que ao meu ver era incoerente, pois uma das primeiras coisas que envelheciam eram as mãos, mas as dele estavam tão belas quanto antes.
Beijei lentamente sua testa e ele abriu os olhos.
- Não quis te acordar meu amor.
- Não tem problema... Que horas são?
- Ainda são 7 horas, volte a dormi. - Beijei sua testa e levantei, iria prepara o café, ele tinha horarios corretos para se alimentar e tomar os remédios.
- Aonde você vai? Fique do meu lado um pouco mais...
- Tenho que preparar seu café, não podemos atrasar.
- Não vai atrasar, só venha até aqui, só um pouquinho.
Me deitei ao lado dele, como eu o amava. Ele desenhou meu rosto com as mãos, demorou nos lábios, aproximou o rosto do meu e me beijou com delicadeza.
- Eu amo você, obrigado por não me deixar sozinho.
- Eu jamais te deixaria sozinho, já que te amo tanto.
Nos olhamos por um longo momento. Me levantei e fui preparar o café. Ele voltou a dormi.
Voltei para o quarto, sua mão direita estava sobre o meu travesseiro, seus olhos estavam fechados, sua aparencia era serena, em paz.
Beijei sua mão, antes quente, notei que estava gelada. Ele estava em paz, sem sofrimento.
N. Reis